segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Veja como foi a 4ª Live da ACREPA 2020


No dia 12.11.2020, aconteceu a nossa Live: "Usos e abusos do termo interdisciplinar na Ciência da Religião", ministrada pelo Dr. Fábio L. Stern. E mediada pela Profa. Esp. Giovana dos Anjos Ferreira Vilhena (Vice-Presidente da ACREPA)

Para quem perdeu nossa live, ela está gravada no nosso Canal no YouTube "ACREPA Associação de Cientistas da Religião do Pará": https://youtu.be/2csGooyASmM

Resumo da Live: As outras disciplinas acadêmicas que primeiro alcançaram a legitimidade nas universidades brasileiras e também pesquisam religiões – como a antropologia, a sociologia, a história e a filosofia – sempre questionaram a existência de departamentos dedicados especificamente ao estudo da religião. Assim como nos Estados Unidos, onde a fenomenologia da religião foi evocada como o distintivo metodológico para justificar a existência de tais departamentos, todos os programas brasileiros de ciência da religião adotaram, em algum momento, a fenomenologia da religião para justificar as suas existências. Isso gerou inúmeras críticas de tais disciplinas sobre a falta de crivo sobre o que estava sendo desenvolvido em tais programas. Mais tarde, isso levou a uma mudança no discurso interno da ciência da religião brasileira, que passou a evocar a interdisciplinaridade como o traço distintivo de seu estudo.

Segundo Alex Mendes, analista de discursos foucaultiano que estudou a tensão entre diferentes identidades na ciência da religião brasileira, essa abordagem tem sido utilizada para resolver as disputas disciplinares dentro da ciência da religião no Brasil. O apelo à interdisciplinaridade evoca o entendimento de que não existe uma área autônoma para tais estudos (ciência da religião, no singular), mas um campo formado por várias disciplinas (ciências da religião, no plural). Isso tem assegurado a manutenção de nichos protegidos para as disciplinas que primeiro obtiveram o reconhecimento acadêmico e a autorização social para pesquisar sobre as religiões no Brasil. Como tal, hoje no Brasil há duas vezes mais professores sem formação específica em ciência da religião dando aula em programas brasileiros de ciência da religião do que pessoas com um diploma específico em ciência da religião, e não há uma preocupação significativa em reverter esse quadro. Pelo contrário, tanto o Alex Mendes quanto o Matheus Costa apontaram que o apelo à interdisciplinaridade faz com que os programas brasileiros de ciência da religião prefiram contratar profissionais das mais diversas disciplinas exceto a própria ciência da religião, negligenciando seus egressos nos processos seletivos de professores. O parecer de Alex Mendes é ratificado por um artigo de Mailson Souza de 2019, quem analisou os documentos oficiais da área na CAPES e concluiu que o termo “interdisciplinar” é utilizado não por razões teóricas no Brasil, mas como um elemento de unidade político-institucional. Ao permitir a inserção de múltiplas disciplinas na ciência da religião, o termo “interdisciplinaridade” permite a possibilidade de interlocução com pesquisadores de diversas áreas. Entretanto, não articula como um cientista da religião deve administrar ou aplicar esse aparato teórico-metodológico de outras disciplinas a partir da interdisciplinaridade, já que qualquer área do conhecimento pode evocar a interdisciplinaridade da mesma forma. Esse é um complicador para a disciplina, pois autoriza os programas a adotarem métodos e teorias muito diferentes, comportando-se quase como diferentes disciplinas. Nesse sentido, pode haver tanto cursos ostensivamente teológicos como outros fortemente orientados para a filosofia ou as ciências sociais, e todos eles serão considerados programas de “ciência da religião” no Brasil. Na live, debatemos esse problema, discutindo os reflexos que isso gera na inserção profissional das pessoas que são formadas em ciência da religião não apenas na Educação Básica (Ensino Religioso), mas também nos outros campos de atuação de cientistas da religião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário